quinta-feira, 25 de setembro de 2014

MENINAS MÁS (parte 11)

Era sábado de tarde e eu estava sem ter o que fazer. Naquele final de semana Aline havia ido viajar com os pais, o que significava que eu estava abandonada. Meus pais saíram para visitar uma tia doente e eu liguei a televisão para tentar assistir algum programa. Desliguei em seguida. Não havia nada que prestasse.

Dei um pulo quando meu celular tocou. Eu já estava meio que dormindo no sofá. Mais surpresa eu fiquei quando constatei quem era.

Gabi.

E agora?

− Alô? – nem sei por que atendi a porra daquela ligação.
− Paulinha, eu preciso muito falar com você.

Gabriela entrou rachando, quase nem me deu tempo para respirar. E parecia ansiosa. Bem ansiosa.

− O que você quer?
− Falar com você.
− Fale então.
− Me deixe ir na sua casa. Por favor – gemeu ela.

Parecia ser uma coisa importante. E eu fiquei curiosa.

− Tudo bem. Pode vir.
− Já estou aqui embaixo. Diga para o porteiro me deixar subir.

Cada dia uma surpresa. Em poucos minutos ela estava parada no meio da sala retorcendo as mãos. Não estava chorando, pelo menos ainda. Mas sua expressão era horrível.

− O que você tem para me dizer, Gabriela? – perguntei sem muita paciência.

Ela se sentou ao meu lado e pôs a cabeça entre as mãos. Me perguntei se tudo aquilo não seria um teatro.

− Acho que fiz uma baita cagada.
− Jura? Acho que você fez várias – retruquei cínica.

Gabi me encarou e a partir daquele momento comecei a acreditar que ela estava realmente falando sério.

− Eu não devia ter me bandeado para o lado delas.
− Mas não pensou duas vezes antes de acabar com nossa amizade.
− Oh, Paulinha, se você soubesse o quanto me arrependo...
               
Lágrimas vieram aos olhos dela. O papo começou a me interessar.

− E se você soubesse como eu me senti.
− Elas não são como você, Paulinha – revelou Gabi, cada vez mais torcendo as mãos. – Sarah e Vanusa são más. Sinto muito pelo seu pulso.
− Não pense que isto ficará em branco.
− Desculpe por tudo, Paula. Desculpe mesmo. Mas eu não pude resistir. Elas são super descoladas. Estão por dentro de tudo o que acontece. Festas, garotos, movimento. Eu queria mais. Queria a popularidade delas.
− Desculpe por minha amizade ser tão pouca coisa para você.

Fiquei magoada com as coisas que Gabi me disse. Ela só faltou dizer que eu não era uma garota interessante. Ela tentou se explicar:

− Nunca foi pouca coisa. Você só é diferente delas. Você… é melhor que elas.
− Se sou melhor que elas, porque você não manda aquelas vacas à merda e fica minha amiga de novo?
− Eu não consigo. Tenho um pouco de medo delas, sabe?
− Você é mesmo muito fraquinha, Gabriela – eu praticamente cuspi aquelas palavras. – Como eu sou idiota. Por alguns segundos até achei que podia lhe perdoar. Na verdade você é tão vazia quanto elas. Não quero mais voltar a ser sua amiga.

Levantei e fui direto abrir a porta do apartamento. Gabi foi atrás de mim agora chorando.

− Vim aqui me humilhar e você parece não estar nem um pouco se importando com meus sentimentos.

− E você se preocupou comigo alguma vez quando me deixou plantada no banheiro falando sozinha ou me deixando na mão para alguma prova? Você foi extremamente egoísta este tempo todo. Sarah e Vanusa são péssimas companhias e sinto pena de você por ter descoberto isto tão tarde. Agora suma daqui. Vá ficar com suas amigas, as festas, os garotos e o que mais elas podem lhe dar.

Gabi enxugou as lágrimas e saiu sem olhar para trás. Fechei a porta e me joguei no sofá. Chorei também. Talvez eu não tivesse nada mesmo interessante para oferecer a ponto de minha melhor amiga procurar outras parcerias.

Nossa, eu devia ser muito chata.


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