quarta-feira, 17 de setembro de 2014

MENINAS MÁS (parte 2)




Chegamos apressadas no banheiro onde Gabriela lavou as mãos e o rosto. Eu parei ao lado dela e estendi algumas toalhas de papel. Ela confessou super orgulhosa de si mesma:

− Foi o melhor jogo da minha vida! Imagine, com as minhas parcerias não poderia ser diferente!

Antes que eu conseguisse responder à altura, Sarah e Vanusa entraram no banheiro. Elas andavam sempre juntas, acho que era pior que eu e Gabi. De repente aquelas vozes afetadas e de gralhas inundaram o ambiente e eu quase coloquei as mãos no ouvido para não ter que escutá-las. Ao verem Gabi, elas a cercaram imediatamente. Fui posta de lado. Eu não existia mais para nenhuma delas.

− Ei, nossa jogadora revelação! – exclamou Sarah com seu batom mais vermelho que os cabelos de Vanusa. Parecia uma prostituta.
− Garota, por que você não disse que jogava tão bem?

Enojada, eu percebi o rosto de Gabi ficar rosado de pura satisfação. Ela estava se sentindo uma estrela no meio delas.

− Eu adoro jogar vôlei! Mas o time de vocês já está fechadinho, por isto nunca pedi para entrar.

Nem eu sabia disso. Aliás, aquilo era uma baita mentira. Gabi tinha medo de ir para quadra e passar vergonha e sempre que podia dava um jeito de fugir.

− Pare com isto! – exclamou Vanusa. – Quer jogar com a gente? Nossa colega nos deixou na mão. Tem lugar para você agora.

Era quase uma intimação, eu percebi. Sarah emendou:

− Você é ótima, garota. Olha só, nós treinamos no ginásio da escola três vezes por semana. Daqui a dois meses irá começar o campeonato interescolar. Quer fazer parte da nossa equipe?

Quase vomitei. Juro, cheguei a olhar para o lado procurando uma cesta de lixo. Os olhos de Gabi brilharam.

− Nossa, eu quero sim! É meu sonho!

Sonho? Como assim, sonho? Tive vontade de me meter naquela conversa e acabar com tudo. Porém, confesso, não tive coragem. Eu estava em minoria. Foi então que algo surpreendente aconteceu. Sarah pegou o braço de Gabriela, abriu a porta do banheiro e a puxou para fora. Me vi sozinha ali olhando para as paredes, enjoada com o perfume doce que foi deixado no ar.

Eu não queria acreditar no que estava acontecendo. Minha BFF havia me deixado sozinha, me preterindo para ficar com aquelas vacas? A raiva foi tanta que senti as lágrimas subirem aos meus olhos. Gabi tinha me deixado de lado!

Esperei mais um minuto ou dois para me acalmar. Eu sabia o que acontecia quando me irritava. Perder o controle era muito fácil para mim. E eu não podia mostrar o quanto aquela atitude de Gabi havia me atingido. Quando me senti segura, abri a porta do banheiro, ergui a cabeça e caminhei até a sala de aula. A professora ainda não havia chegado. Deparei-me com Gabi do outro lado da sala em risinhos e conversas com as garotas. Abri um caderno e fiz de conta que repassava a matéria. Mas meus sentidos estavam todos ligados tentando captar alguma coisa.

Gabi só voltou para o meu lado quando a professora entrou e mandou todos para os seus lugares. Ela sentou, a boca escancarada de tanta felicidade. Sim, era felicidade o que minha amiga sentia. Ela simplesmente estava no céu.

− Você viu o que aconteceu?
− O quê? – perguntei olhando o caderno e não enxergando uma linha sequer.

Sussurrando para não chamar a atenção da professora, ela contou:

− Vou jogar com elas!

Não olhei para Gabi. Aliás, não consegui encará-la mais até o final da aula.

− Parabéns – respondi secamente.

Reparei que Gabriela ficou surpresa com meu jeito. Ela era tão bobinha que talvez não tivesse se dado conta o quanto eu estava magoada.


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