domingo, 18 de janeiro de 2015

UM CADÁVER NO MEU JARDIM (Cap. Final)

− Pai…
− Cale a boca, Amanda! Vocês conseguiram me tirar do sério! Tereza, Rodolfo... Mais alguém morreu e eu devo saber?

Cris olhou para Poncho e respondeu sussurrando:

− Faltou o Poncho.
− Fique quieto. Eu…

A campainha tocou. Marília e Carlos se entreolharam.

− Vocês convidaram alguém para participar da nossa festinha particular? – perguntou Carlos dando uma risada sinistra.

Temendo alguma reação do pai, Amanda recuou alguns passos e disse:

− Eu… É melhor eu ir ver quem é.

Um minuto depois Amanda retornou acompanhada de dois homens jovens. Carlos não reparou o quanto a filha estava pálida. Ainda segurando a pá, ele a cravou com força na terra e perguntou para Amanda em altos brados:

− Quem são estes caras, Amanda?

Um deles respondeu:

− Somos da polícia, senhor – e estendeu a carteira funcional para Carlos.
− Polícia? – Carlos tentou ganhar tempo. Discretamente ele largou a pá, mas ela bateu em uma pedra fazendo o maior barulhão. – Muito prazer – Ele se aproximou deles estendendo a mão amistosamente. Que diabos era aquilo afinal?

− Recebemos uma denúncia anônima.
− É mesmo?

Somente Carlos falava. Amanda, os gêmeos e Marília se postaram um ao lado do outro, mudos e gelados, esperando o pior.

− Relataram que há um corpo aqui – os olhos dos dois policiais se dirigiram para onde a terra já estava remexida.
− Um corpo?

Carlos deu sua risada apavorante. Colocou as mãos na cintura e olhou para a família procurando apoio.

− Eles estão dizendo que tem um corpo aqui.

André apontou para onde Poncho jazia e perguntou:

− Serve aquele?

Os olhos de todos focaram no corpo do cachorro morto.

− Bem, como vocês podem ver – Carlos sentiu-se dono da situação outra vez, − há um corpo nesta casa. Meu cachorro Poncho teve um ataque cardíaco e caiu duro. Quando vocês chegaram aqui estávamos debatendo o que fazer com ele. Aliás, iremos enterrá-lo aqui no jardim.
− Pedimos desculpas, senhor – falou um dos policiais. – Meus pêsames.
− Ah, tudo bem. Amanda leve os senhores até a porta, por favor.

Quando a garota retornou encontrou o pai cavando desesperadamente a cova de Tereza. Assustada, ela indagou baixinho:

− Pai, eles podem voltar. Vamos dar um tempo.
− Tempo coisa nenhuma. Pra mim chega. Chega mesmo! André, acenda a churrasqueira.

A conversa era feita quase aos sussurros. André prontamente fez o que o pai pedia enquanto Marília, nervosa, aproximou-se do marido para perguntar:

− O que você está pretendendo, Carlos?
− Não vamos mais correr riscos. E não fale nada. Aliás, estão todos proibidos de falar aqui.
Assim que Carlos avistou o cobertor cor-de-rosa, pediu que um dos filhos alcançasse uma máscara e a luva cirúrgica. Um cheiro terrível tomou conta do ar quando Carlos pegou o saco preto e envolveu Tereza nele. Todos deram passagem quando o homem colocou os restos da empregada em um carrinho de mão e se dirigiu até a churrasqueira.
− André, coloque o cachorro no buraco. Agora.

Enquanto André e Cris levavam Poncho até o buraco, cobrindo-o com a terra, Tereza queimava na churrasqueira. Amanda e Marília assistiam a tudo abraçadas e chocadas. Os gêmeos mantiveram uma boa distância do pai, por via das dúvidas. O fedor impregnou o ar e Cris cutucou o irmão:

− Daqui a pouco a polícia vai voltar.

Carlos, prestes a ter um surto, começou a fazer a dança da chuva. Marília, abismada com o comportamento irracional do marido, perguntou:

− Posso saber o que você está fazendo, homem?
− Se não chover logo, estaremos fodidos. O fedor vai chegar até a delegacia e todos seremos presos! Rá! Todos nós!

De fato começou a chover em pouco tempo, amainando o cheiro ruim. Depois que Tereza virou pó, Carlos juntou tudo, colocou em uma vasilha e parou em frente a todos. E declarou:

− Aqui jaz a amiga de vocês de tantos anos. Aquela que, inadvertidamente, resolveu se meter na briga dos meus dois filhos imbecis e se deu muito mal. Viva Tereza!

Carlos jogou as cinzas da empregada sobre Cris e André, deu a sua risada mais sinistra de todos e entrou na casa cantarolando. Marília murmurou:

− Se eu matar o pai de vocês, alguém me ajuda a abrir uma cova?


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