terça-feira, 12 de abril de 2016

O DESCONHECIDO - Conto erótico/Parte 1




A hospedaria ficava em uma curva na beira da estrada. Um jardim bem cuidado na frente tornava o lugar aconchegante. Do lado de fora era possível sentir o aroma delicioso da carne feita nas grandes panelas da cozinha da hospedaria. Eimé, a dona do local, dava conta das deliciosas comidas preparadas junto com a cozinheira, Maria, que a acompanhava há muito tempo. Kendra, a filha de 19 anos, ajudava a servir os visitantes e hóspedes.

O trabalho de Kendra, assim como das duas outras mulheres, era pesado. Acordavam-se antes de o sol raiar e imediatamente começavam os preparativos para o desjejum e, em seguida, para o almoço. Entre um intervalo e outro, Kendra limpava a hospedaria e os seis quartos que a compunham. Assim era o dia todo, as horas passavam rápidas demais. Quando Kendra repousava a cabeça no travesseiro antes das oito horas da noite, seu corpo já estava cansado demais para pensar em qualquer coisa. Ela só queria dormir.

Aquele dia quente de sol não foi diferente. Kendra levantou ainda de madrugada, como de costume, pôs seu vestido simples de trabalho e prendeu os cabelos loiros e cacheados debaixo de um lenço florido. Os olhos azuis brilhavam intensamente quando desceu as escadas e logo começou a trabalhar.

Na cozinha as panelas fumegavam, enquanto o aroma delicioso da comida dava água na boca dos visitantes que lentamente começaram a chegar para o almoço. Kendra se movimentava de um lado para o outro para dar conta de tudo e logo um fiozinho de suor começou a escorrer pelas costas. Em meio às atividades frenéticas lembrou que poderia ir à lagoa mais tarde, se sobrasse um tempo. Depois que limpasse a cozinha não faria mal nenhum se desse uma escapulida, desde que Eimé não visse. A mãe sempre tirava um cochilo depois que os afazeres do almoço terminavam.

Kendra servia uma travessa de carne e especiarias a um visitante, alheia ao burburinho de vozes masculinas a sua volta. Sabia ser o alvo de muitos olhares, mas nenhum daqueles homens a interessava. Pesados, barbudos e fedidos, isto o que eles eram. Já tinha 19 anos e nenhuma perspectiva de encontrar um amor. Não por aquelas bandas, pelo menos.

O ruído de vozes subitamente cessou. A princípio, Kendra não se deu conta. Continuou servindo a comida como se nada estivesse acontecendo. Sem querer, seus olhos se voltaram para Eimé. A mãe segurava um pano de prato, olhando fixamente em direção à porta. Ela estava diferente, parecia surpresa com alguém que recém chegara. Curiosa, Kendra resolveu fazer o mesmo e conferir quem era.

Um homem alto, pele morena e cabelos escuros estava parado à porta, perscrutando o salão procurando um lugar para se acomodar, juntamente com seu cocheiro. Eimé, recuperando-se do seu torpor, adiantou-se para receber o ilustre freguês.

O coração de Kendra acelerou, a ponto de ela fazer transbordar vinho da taça de um hóspede, precisando secar tudo em seguida, embaraçada. Com o canto dos olhos, percebeu o belo homem já acomodado em uma mesa mais ao canto. Eimé se aproximou da filha e a puxou para a cozinha. A mãe estava visivelmente encantada.

— Temos um hóspede célebre hoje. Sirva o conde direitinho e se mantenha calada.

Eimé colocou uma travessa de carne nas mãos da filha.

— Leve de uma vez. Ele e o cocheiro estão com fome.

Kendra pegou o recipiente quente e se dirigiu até a mesa. Os olhos do conde se cruzaram com os dela e Kendra se sentiu envergonhada. Pelo que se lembrava, era a primeira vez que um homem daquele porte aparecia na hospedaria, o que justificava o comportamento da mãe. E dela própria. Tensa, Kendra colocou a travessa sobre a mesa e relanceou os olhos rapidamente para o conde.

— Traga-nos vinho ─ disse ele encarando Kendra sem disfarçar um certo interesse.

A moça chegou a estremecer. A voz dele era forte. Forte e fria. O tom arrogante aumentou um pouco o calor que sentia percorrer seu corpo. Tímida, Kendra respondeu, quase sem olhar para o rosto dele:

— Sim, senhor.
— Agora.
— Sim, senhor.

Quase sem ar, Kendra deu meia volta e foi até a cozinha buscar a jarra de vinho. Eimé estava à frente das panelas e percebeu que a filha parecia um pouco estranha.

— Tudo bem no salão?

Kendra não encarou a mãe. Sabia a que ela se referia. Segurando a garrafa e os cálices, a jovem respondeu:

— Ele quer vinho.
— Leve de uma vez. Não deixe o conde esperando ─ ordenou Eimé rispidamente, secando o suor com um lenço.

Kendra retornou ao salão. O lugar estava cheio, havia vozes por todos os lados. Porém, ela não via mais ninguém. A beleza e virilidade do conde tomavam conta do ambiente. As pernas estavam trêmulas quando Kendra parou frente à mesa. Serviu os cálices tentando não tremer demais, ciente do quanto era observada por ele. De repente, sentiu um leve empurrão. Era Eimé. Sorridente e não parecendo sentir um pingo de vergonha ante aquela visita ilustre, ela disse para a filha, sem tirar os olhos do homem:

— Volte para a cozinha. Maria precisa de você lá.

Era a primeira vez que Eimé se dirigia a ela daquele jeito, pedante e seco. Sentindo-se magoada, Kendra foi até a cozinha. Maria cortava um pedaço de pão e as panelas cozinhavam carne.

— Mamãe disse que você precisa de ajuda.

Maria a olhou sem entender.

— Aqui está tudo sob controle, Kendra ─ ela olhou pelas frestas da janela. — Veja, chegou mais uma carruagem! Ajude a arrumar uma mesa para o próximo visitante.

Kendra voltou para o salão e ajudou a servir as demais pessoas. Eimé circulava pelo lugar com uma postura diferente, os ombros para trás e com os longos cabelos castanhos descendo pelas costas. Nunca Eimé tirava o lenço da cabeça, mas por causa do homem ela abrira uma exceção. Kendra se sentiu enciumada. Era nítido que ela queria chamar a atenção do homem bonito. Pelo visto, no entanto, as tentativas de Eimé resultavam frustradas. O conde não tirava os olhos de Kendra.
Cada vez mais o desejo tomava conta de Kendra. Se no início estava tímida, depois de um tempo já não se sentia tão envergonhada em sustentar os olhares calorosos que o conde lhe enderaçava. Em dado momento, chegou a esboçar um sorriso leve, para depois quase se arrepender. Nossa, não queria que o desconhecido a achasse uma oferecida. De qualquer forma, era muito bom sentir-se desejada. Ah, seria maravilhoso que ele passasse apenas uma noite que fosse na hospedaria!

A mão calejada de Eimé a segurou fortemente pelo cotovelo. Kendra deu um gemido baixinho ao mesmo tempo em que enfrentava os olhos furiosos da mãe.

— Venha comigo já.

Kendra não teve coragem de olhar para os lados, mas teve certeza que muita gente viu sua vergonha ao ser conduzida como uma criança para a cozinha. Lá dentro, Eimé, furiosa, quase bateu na filha única com um pano de prato sujo.

— Não saia desta cozinha, entendeu? Pensa que não vi seu olho comprido para cima do conde? Não se comporte como uma rameira.

A moça não disse nada. Era lógico que Eimé estava morrendo de ciúmes. E era óbvio também que o conde não teria interesse nenhum pela mãe, jovem, porém com o corpo disforme. Inconformada, Kendra se sentou em um banco da cozinha. Maria foi levada ao salão para ajudar a servir os visitantes.

O calor na cozinha era insuportável e a raiva de Kendra também. Sem se importar com o trabalho ou com o castigo que levaria da mãe mais tarde, a jovem abandonou a cozinha e suas panelas, fugindo pela parte de trás da hospedaria. Caminhou lentamente até a lagoa, aproveitando os odores do bosque e o ar puro. Precisava de um mergulho para afastar o calor que a consumia. Sabia que quando voltasse, o conde estaria longe. Mas seria melhor assim. Nunca mais o veria mesmo.

Kendra tirou o vestido lentamente e agachou-se à beira da lagoa para sentir a temperatura da água. Estava perfeita. Animada, Kendra entrou com cuidado e mergulhou em seguida, adorando aquele momento. Precisava de um descanso. Fazia alguns dias que não tinha tempo para si mesma.

Ela perdeu a conta do tempo em que ficou por ali, esquecida dos seus afazeres. Talvez sua mãe não precisasse tanto dela, já que a despachara da hospedaria daquela forma tão rude. Kendra decidiu permanecer mais um pouco na lagoa, imaginando se o homem bonito já teria partido. Esperava, com todas as suas forças, que ele voltasse um dia.


Um ruído de passos sobre alguns galhos partidos afastaram Kendra dos seus devaneios. Ela se assustou. Não estava sozinha! Nervosa, chegou a afundar, engolindo água. Quando voltou desajeitada à superfície, deparou-se com o homem a observando da beira da lagoa.


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