terça-feira, 12 de julho de 2016

BONECA MALDITA - Capítulo 1



Quando o carro estacionou na frente da casa da fazenda, Fernanda engoliu em seco. Deixou o pai tirar suas coisas do porta-malas e segurou a mochila que ele lhe estendia. Gilberto demonstrava estar bem feliz por sua filha mais velha vir passar um mês com ele e a nova família na fazenda. Já fazia dois anos que Fernanda não aparecia por lá. E só fora desta vez porque a mãe a obrigara. O lugar era lindo, com muito verde e um rio que passava nos limites da propriedade. A casa era muito confortável, com amplos espaços. E Fernanda ainda tinha a facilidade de ter um quarto somente para ela. O que era muito bom, já que não suportava sua irmã mais nova.

Catarina tinha 10 anos, sete anos a menos que Fernanda. Era uma garotinha linda, loura e de lindos olhos verdes. Cristina, a madrasta, dedicava-se inteiramente à única filha, o que era bom já que Gilberto, devido à profissão, pouco parava em casa. Fernanda não sabia como iria fazer para suportar a ambas. Da última vez que passara alguns dias na fazenda, saíra sem se despedir devido a uma enorme briga. E jurara que nunca mais voltaria àquele lugar. Agora, em pé ao lado do pai na frente da casa, Fernanda torcia para que as coisas fossem mais calmas desta vez.

Ainda não havia escutado a voz estridente da irmã. Aliás, este era o som mais escutado por lá. Catarina falava pelos cotovelos, sem parar. Cristina achava lindo e não se cansava nunca de ouvi-la. A madrasta, contudo, era cega para todo e qualquer defeito da filha. Tudo o que Catarina fazia e falava era lindo e inteligentíssimo. Era incapaz de enxergar o quanto uma criança daquele tamanho era perversa.

− Estou muito feliz por você estar aqui conosco, minha filha.

Fernanda o encarou e tentou sorrir. Gostaria de estar em qualquer lugar, menos lá. Chegara até a sugerir que ela e o pai fizessem uma viagem juntos, somente os dois. Mas ele recusara, dizendo que seria importante ela conviver mais tempo com a irmã. Por fim, depois de alguma insistência, lá estava ela. E sem conseguir disfarçar sua expressão de contrariedade.

− Espero que saia tudo bem por aqui, pai.

Ele sorriu e beijou sua testa.

− Tenha só um pouco de paciência. Ela é apenas uma criança.
− Criança, aff...

Naquele momento a porta se abriu e Cristina apareceu. Ela estava com alguns quilos a mais e com a mesma cara de sonsa. Fernanda sabia que a madrasta morria de ciúmes dela e quando viu pai e filha juntos, o sorriso falso que trazia no rosto pouco a pouco se apagou.

− Ora, como a Fernanda cresceu.

Agora ambas já estavam praticamente do mesmo tamanho e Fernanda descobriu que não a temia mais. As duas trocaram beijos e a garota ficou enjoada com o perfume forte usado pela madrasta. Infelizmente o seu mau gosto permanecia. Não entendia como o pai um dia fora se apaixonar por aquela mulher.

− E você está muito bonita também – disse Cristina olhando a enteada de alto a baixo.
− Obrigada, Cris. É o tempo passou.
− Você precisa ver a Cat. Ela está lindíssima. Cada vez mais esperta e espirituosa.

Fernanda deu um sorrisinho sem graça e resolveu seguir o pai que entrava na casa. Quanto menos visse Catarina melhor. Não se sentia com a menor disposição para enfrentar os prováveis embates que viriam pela frente.

− O quarto está prontinho para você, querida – disse o pai feliz. Ele seguia na frente, subindo as escadas e levando as duas malas. – Não se preocupe com nada. Se lhe faltar alguma coisa, pode me chamar.

Era admirável o esforço do pai em fazer com que Fernanda se sentisse à vontade.

− Eu sei, papai, muito obrigada.

O quarto era bem espaçoso. Gilberto deixou as duas malas no meio do quarto e encarou a filha.

− Acho que você quer descansar um pouco...

Fernanda consultou o relógio. Passava um pouco das seis horas da tarde.

− Acho que vou tomar um banho. Que horas é o jantar?

Na fazenda todas as refeições eram feitas juntas, o que contrariava Fernanda que gostava de comer sozinha no quarto.

− Às vinte horas, Fê. Você sabe como Cristina faz questão que estejamos todos juntos.
− Eu estarei lá, pai.

Gilberto afagou a bochecha da filha e saiu do quarto. Quando a garota se viu sozinha, sentou na cama, exausta. Aquela ainda era a primeira noite. Teria ainda quatro semanas pela frente. Havia combinado com a mãe se caso as coisas estivessem muito insuportáveis, retornaria antes. Lentamente, Fernanda separou uma blusinha e uma saia para vestir depois do banho, deixando as peças em cima da cama. O banho foi um pouco demorado e bem gostoso. Quando ela retornou para o quarto enrolada em uma toalha percebeu que blusa estava dispersa de uma forma diferente da que havia deixado. Achando aquilo estranho, Fernanda se aproximou da cama e foi conferir de perto.


Ela sufocou um grito. O tecido havia sido perfurado em várias partes.

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