terça-feira, 25 de julho de 2017

MEU CHEFE É UMA LOUCURA (Cap.7)



O movimento estava grande naquela manhã. Era um movimento de vai e vem de pessoas e telefones tocando sem parar. Simplesmente era impossível manter qualquer tipo de conversação com minhas colegas. Por um lado era ótimo. Pelo menos o assunto “sexo” ficava em segundo plano.

Eu estava atendendo a uma ligação quando percebi Angélica e Kelly se cutucando por debaixo do balcão. O movimento não estava tão intenso naquele momento, mesmo com algumas pessoas passando por ali. Não entendi o motivo das meninas parecerem tão excitadas. Talvez fosse algum menino bonito que tivesse dado uma piscadinha para elas, pensei ingenuamente. E esqueci o assunto.

Alguns minutos depois quando tudo parecia mais calmo, Kelly suspirou:

− Val, você perdeu.
− Perdi o quê? – fiquei curiosa.
− O homem.
− Que homem?
− Dr. Leonardo – informou Angélica, abanando-se com um pedaço de papel transformado em leque. – Ele passou por aqui.

Aquele nome não me era estranho. Dr. Leonardo…

− Quem é? Não consigo me lembrar…

Tive a impressão de que minhas duas colegas queriam meu fígado. Como eu não sabia de quem se tratava o tal Dr. Leonardo???

− Não acredito, Val, que você fez uma pergunta destas! É o presidente, o chefão de todas nós!
− Ah… − lembrei vagamente que o RH havia me dito algo sobre. – Bem, se ele passar por mim nem vou fazer ideia de quem seja. Vocês precisam me avisar.

Angélica e Kelly se entreolharam.

− Nem é preciso avisar você, Val. De longe você verá quem ele é.
− Por quê? Ele é gordo?

Santa inocência. Angélica me encarou quase furiosa.

− Você acabou de dizer um sacrilégio.
− Devo lavar a boca? – eu ri sem entender o motivo de tanta excitação por causa do presidente da empresa. – Ele não é gordo?
− Valdirene – começou a falar Kelly pondo a mão no meu ombro, – o Dr. Leonardo é simplesmente o homem mais bonito do Brasil. E eu não estou exagerando.

Todos meus instintos afloraram naquele instante e posso dizer que minha vida mudou a partir dali. Fiquei curiosíssima.

− Como assim o mais bonito do Brasil? Você está tirando sarro da minha cara, não é mesmo?

As duas balançaram a cabeça negando que aquilo tudo fosse uma brincadeira. Realmente eu nunca as vira tão sérias.

− Quando você pôr os olhos no cara ficará louca de tesão.     
 
Interessei-me terrivelmente por aquela informação. Precisava saber mais sobre o tal Dr. Leonardo.

− Então me conte. Como ele é?

Angélica passou a dar a ficha do chefe, auxiliada por Kelly. O sentimento de adoração era genuíno.

− Imagine um homem de 1,90 centímetros de altura – Angélica o descrevia com gestos significativos – e com os olhos mais negros e misteriosos que alguém pode ter. Quando aquele deus olha para alguém, nunca se sabe o que ele pode estar pensando.

Fiquei aflita. Subitamente lembrei-me de Samanta Hot. Sussurrei:

− Continue.
− Ele usa ternos lindos, bem cortados  − continuou Angélica com os olhos vidrados, – mas mesmo assim dá para ver os músculos perfeitos do braço, do abdômen...

 Kelly foi em frente:

− Já enxerguei o músculo da perna dele saltando nas calças. E a boca… Nossa, aquilo não tem explicação.

Tomei um gole da minha garrafinha de água. Elas estavam descrevendo um deus grego.

− O que tem a boca dele?
− Carnuda. Gostosa. Boa de beijar.
− É? – mesmo sem conhecer meu chefe, os pensamentos que vieram a minha mente foram totalmente pecaminosos. Coincidentemente, Kelly os traduziu quase na mesma hora:
− Fico imaginando aquela boca na minha buceta.

Virei quase toda a garrafinha dentro da boca. Angélica não se fez de rogada e disse:

− Teve uma vez que ele passou por nós à paisana. Sabe o que isso significa? Que ele estava vestido com um jeans claro e uma blusa branca comum. Marcava a bundinha dele, sabe? Nós piramos sentadas aqui.

Quem estava completamente pirada era eu. Construí a figura de um homem na minha mente e já estava completamente envolvida com ele. Balbuciei:

− E… ele passou por aqui hoje?
− Sim, ele passou por nós – respondeu Kelly, suspirando. – Parecia estar desfilando em uma passarela.
− Será que ele vai voltar?

Minha voz saiu esganiçada.

− Sei lá. Às vezes ele tem reuniões fora, viagens, ficamos dias sem vê-lo.
− Mas sempre que ele lembra nos dá um abaninho – disse Angélica. – Para nós é tudo.

Minha barriga roncou naquele instante e eu lembrei que estava de dieta. Incentivei-me mais ainda. Para Dr. Leonardo dar bola para mim, eu precisava chamar atenção. Estar magra. Talvez loura. Quem sabe usar batom vermelho para aumentar o tamanho dos lábios. Silicone nos peitos, no futuro.

Fiquei apaixonada baseada apenas nas descrições das minhas amigas. Sentia-me uma adolescente babaca. Queria demais conhecer aquele homem.

Passei o resto do dia somente comendo frutas e esperando meu chefe cruzar a porta. Ele não apareceu.


E eu não desisti.

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