terça-feira, 1 de agosto de 2017

MEU CHEFE É UMA LOUCURA (Cap, 8)



Cheguei em casa à noite completamente transformada. Fui direto para o espelho me analisar. Sim, eu precisava urgentemente de uma recauchutada geral. Diminuir alguns centímetros na barriga era fundamental. Minha dieta seguia razoavelmente bem. Talvez houvesse emagrecido alguma coisa. Mas para conquistar Leonardo, meu chefe, e a quem eu nunca havia visto até então, era preciso muito mais. Certamente ele gostava de ficar com beldades. Eu estava longe de ser uma.

Por enquanto.

Meus objetivos agora voavam mais alto.

Não precisa emagrecer mais. Você está bem assim.

Ignorei o comentário mentiroso da minha mãe. Perguntei:

− O que acha de eu tingir meu cabelo de loiro?
− Acho que você ficará parecendo uma puta.

Ignorei de novo aquele comentário mal educado e grosso. Porém, estava decidida. No sábado pintaria meu cabelo de loiro. Loiro Marilyn Monroe. Minha cabeleireira oficial não se importaria que eu pagasse no final do mês. Um corte moderno, cabelos mais claros, magra. Leonardo – ou Dr. Leonardo enquanto ele fosse meu chefe – iria se encantar por mim.
*
− Tem certeza de que é isto que você quer?

Dona Carmem segurava meus cabelos analisando cada fio. Sim, eu estava decidida.

− Claro. Não aguento mais olhar para a minha cara.
− A razão de querer mudar o visual é algum homem?

Prontamente respondi:

− Não.
− Pois bem ­− disse ela finalmente pegando a tesoura e pedindo para a auxiliar misturar a tinta com a qual iria me transformar para sempre em uma diva. – Você sabe que para manter cabelos loiros é preciso muitos cuidados. E muita grana.
− Vai em frente, dona Carmem. Quero sair daqui outra mulher.
− Você pediu.

Fiquei 3 horas no salão. Em alguns momentos cochilei na cadeira tamanho o tédio. Sonhei com Dr. Leonardo. Foi um sonho erótico, minha calcinha estava molhada quando senti um cutucão no meu ombro. Achei que fosse ele, mas quando abri os olhos me deparei com uma figura loira me encarando pelo espelho. Quase gritei quando percebi que aquela era eu.

− Que tal?

Que tal? Nem eu sabia. Não conseguia dizer se estava bonita ou feia. Estranha aos meus olhos, por assim dizer. Dona Carmem fez um milagre. Meu cabelo sem graça ficou repicado, moderninho. Ganhei uma franja, ela caía meio de lado na minha testa. E a cor…

Ultra loira. Não havia um fio de cabelo escuro na minha cabeça. Exótica era a palavra que melhor me definia. Quando eu emagrecesse, ficaria igual a Madonna. Tentei prestar atenção no que Dona Carmem dizia:

− Você precisará retocar os cabelos de mês em mês e hidratar semanalmente. Faça tudo direitinho e não haverá problema.

Balancei a cabeça concordando com tudo, mas não conseguindo assimilar coisa nenhuma. Saí do salão meio zonza, um pouco envergonhada. Na rua meus vizinhos me olhavam com uma cara de terrível espanto. Não sabia se estava agradando alguém. Desconfiei que não. Nem eu própria sabia ainda o que pensava sobre meu novo look.

Entrei em casa em silêncio. Minha mãe estava na cozinha, preparando seus doces, cantarolando em uma bela manhã de sábado. Fui direto para o banheiro para me dar outra analisada. Meu Deus, eu estava completamente diferente.

­­− Ai, meu Jesus!

Minha mãe deu um berro quando me viu. Não reconheceu a figura loura, de costas, e que tentava ansiosamente se encontrar. Aquele grito ensurdecedor me fez gritar junto. Por uns 5 segundos ficamos nos encarando, aparvalhadas. Foi o tempo que precisou para que minha mãe se desse conta que eu era eu.

− O que você fez, minha filha?
− Está muito horrível?

Ela não respondeu imediatamente. Olhou-me, fez caretas, pegou o cabelo para ter certeza de que aquilo era verdade. Por fim respondeu:

− Horrível não. Só está esquisito.
− Esquisito pode ser pior que horrível.
− Para quê tão loiro?
− Por que eu queria mudar.
− Parabéns, você conseguiu. Ainda bem que seu pai não está aqui para testemunhar esta sua loucura.

Meu pai sempre fora muito rígido. Andar de minissaia ou vestidos curtinhos eu só podia fazer quando ele estava viajando. As poucas vezes que consegui arrumar um namorado foi escondido dele. Se ele me visse daquele jeito me expulsaria de casa na mesma hora.

Por via das dúvidas não saí mais de casa naquele dia. Fiquei trancada no quarto para não ter que escutar os resmungos da minha mãe a respeito do meu novo visual. Para piorar o quadro, à tarde ela recebeu visitas. Menti que estava com dor de cabeça e me tranquei no quarto para ninguém me ver.


Foi quando Samanta Hot encarnou em mim.

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