terça-feira, 19 de agosto de 2014

O SUMIÇO DE LARA - Parte 3

Ela acordou depois de algum tempo com mãos frias a sacudindo freneticamente. Claudia soltou um grito antes de se dar conta de que quem estava ao seu lado era a mãe, Dona Julia.

− O que aconteceu, minha filha? Por que você está vestida deste jeito?

Claudia a encarou e em seguida voltou seus olhos para a janela. As cortinas continuavam abertas, porém não havia ninguém do lado de fora. Tudo parecia estranhamente calmo.

− Você saiu? – tornou a perguntar a mãe.
− Eu fui dar uma volta – Claudia se levantou rapidamente e correu para fechar as cortinas. Com um rápido olhar percebeu que não havia ninguém lá fora. Nem mesmo o carro negro.
− Fiquei assustada quando levantei e encontrei você caída aqui no chão. Por que não nos avisou que pretendia sair?
− Não quis preocupar vocês, mãe. E eu queria respirar um ar mais leve.

Mas Claudia continuava pálida e trêmula. Era impossível esquecer a terrível visão do vampiro grudado na janela. Se ele era uma criatura das trevas, será que Lara também...

Aquele pensamento horrível deixou Claudia arrasada. Ela olhou novamente para a mãe.

− Não aconteceu nada de diferente aqui em casa?
− Diferente?
− Bem… alguém estranho passou por aqui?
− Claudia, você bebeu? Não estou entendendo o que você está falando.

A garota respirou aliviada. Ao que parecia, nenhum vampiro havia visitado o apartamento durante sua ausência. Claudia, por fim, declarou se sentindo bem cansada:

− É melhor que eu vá dormir logo. Esta noite foi cruel.
− Você ainda não me contou por que desmaiou.

Claudia não respondeu a última pergunta. Trancou-se no quarto e tentou dormir.


O sábado amanheceu cinzento e chuvoso. Claudia levantou por volta das nove horas da manhã e quando se lembrou da terrível cena do vampiro grudado na janela da sala, um arrepio de terror percorreu todo o corpo. Estava na dúvida se devia ou não avisar seus pais quando os encontrou na sentados junto à mesa tomando o café da manhã. Imediatamente estranhou a expressão de encantamento de Dona Julia. Ela trazia no rosto um sorriso abobalhado e os olhos perdidos no espaço. Claudia sentou frente a ela com um peso no peito. Algo não estava certo.

− Bom dia, pai. Bom dia, mãe. Mãe?

Dona Julia voltou seus olhos para Claudia. Eles brilhavam de felicidade. Por alguns instantes a jovem esperou que fosse ouvir uma excelente notícia.

− Você já contou para ela, Getúlio?

O pai estava meio esquisito também, não compartilhando do mesmo encanto da esposa.

− Não, querida. Claudia recém levantou.

Tensa, Claudia olhou de um para outro sem entender nada. Não estava gostando nada daquilo.

− Contou o quê? É sobre Lara?

Dona Julia segurou as mãos da filha mais velha e sussurrou como se tivesse medo que mais alguém escutasse a boa nova que ela estava prestes a revelar:

− Lara me visitou esta madrugada!

Claudia sentiu todo o ar fugir do seu corpo. Não era possível.

− Como… como assim?
− Depois que você foi para o quarto, eu voltei para a cama e não consegui dormir logo. Quando estava pegando no sono, escutei um barulho na janela. Levantei-me e fui até lá. Abri as cortinas e adivinhe! Lara estava do lado de fora.

Com as mãos na boca segurando um grito de espanto, Claudia olhou para o pai que baixou os olhos, constrangido. Pelo visto, ele não acreditava naquela história que a esposa estava contando com tanta emoção.

− Lara? Lara esteve aqui? E você abriu a janela?

Sem querer, Claudia olhou para o pescoço da mãe, procurando marca de caninos. Não havia nada. Por enquanto.

− Não tive tempo! – Dona Julia estava empolgadíssima. – Eu me aproximei do vidro. Ela estava grudada ali, os olhos brilhantes como eu nunca tinha visto até então. Mas na hora que eu esbocei um gesto de abrir a janela, seu pai acendeu a luz. Acho que isto a assustou, pobrezinha. Mas ela ainda teve tempo de me dizer alguma coisa. Eu pude ler seus lábios.

− E o que ela disse? – perguntou Claudia, histérica.
− Que vai voltar em breve.



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