domingo, 21 de dezembro de 2014

UM CADÁVER NO MEU JARDIM (Cap. 1)

− Ei, você está roubando! – berrou Cris em frente à televisão.

− Cara, é você que não sabe jogar – devolveu André sem tirar os olhos da tela.

Cris e André. Gêmeos, belos e doidos por jogos de videogame. Todo o tempo livre era dedicado a se digladiarem jogando os mais diversos games. Naquele dia, sem aulas na faculdade, os dois resolveram ficar em casa e se divertir na frente da TV. Os pais e a irmã haviam viajado para a serra. Era próximo do meio dia e a família só voltaria à noite. Na cozinha, Tereza, a empregada de muitos anos, era a encarregada de não deixar os garotos morrerem de fome.

De repente ela escutou um barulho vindo da sala. Alguma coisa havia quebrado. Enxugando as mãos no pano de prato, Tereza largou tudo o que estava fazendo para ver o que estava acontecendo. Quando chegou na porta da sala levou um susto.

− Cris! André! Mas o que vocês estão fazendo?

Os dois estavam em luta corporal. O vaso de porcelana chinesa da Dona Marília jazia espatifado no chão. Tensa, Tereza aproximou-se deles. Conhecia aqueles meninos desde pequenos e nunca os vira engalfinhados como naquele dia.

− Vamos! Parem vocês dois!

Ela se meteu inadvertidamente entre os gêmeos. Tentou apartá-los e impor alguma ordem. Afinal, Dona Marília lhe tinha confiado o bem-estar de ambos. De repente um empurrão vindo de um deles atingiu seu peito. Tereza parou do outro lado da sala. E por lá ficou.

*

Os garotos pararam com a brincadeira de se matarem e olharam para a figura imóvel de Tereza.

− Foi mal, Terê. Pode levantar – falou André com as mãos na cintura.

Cris deu uma risada.

− Você não se deu conta que era só galinhagem nossa?

Nada. Tereza não se mexia.

− Acho que ela se machucou – sussurrou Cris começando a ficar preocupado.
− Cara, você conhece a Terê. Ela está tirando sarro da gente.

Ainda rindo, André se aproximou da empregada e se agachou.

− Está bem, Terê. Chega de brincadeira. Levante. Eu disse le-van-te, entendeu?

O silêncio predominou na ampla sala da casa. Algo estava errado. Quando Cris parou ao lado do irmão, este já segurava o braço da mulher procurando alguma pulsação.

− Cara, não estou achando o pulso dela.
− Me dá aqui! – berrou Cris praticamente puxando o braço da mulher para si.

Agachados, um ao lado do outro, Cris e André passaram os dez minutos seguintes procurando algum sinal de vida em Tereza.

− Cris, vá lá em cima e pegue um cobertor.
− Cobertor pra quê? – indagou ele muito pálido. – Você acha que ela está com frio?
− Bem… Ela não começou a gelar ainda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário