quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

UM CADÁVER NO MEU JARDIM (Cap. 12)

− Foi você?

Os dois irmãos se encontravam no banheiro da casa. Os pais degustavam a sobremesa na sala de estar. Cris encarou André surpreso com aquela pergunta descabida.

− Foi você? – ele devolveu a pergunta muito ofendido.
− Claro que não.
− Também não matei ninguém – estrebuchou Cris. – Não tenho o hábito de sair por aí atropelando pessoas.
− Ok, desculpe. Só queria ter certeza – falou André tentando apaziguar o ânimo do irmão.
− Pode ter sido nosso pai.
− Ou nossa mãe – emendou Cris, pesaroso.
− O importante é que não temos mais nenhuma testemunha. Quem atropelou o velho na verdade nos prestou um grande favor. Ei! Quer parar de me olhar com esta cara? Quem estava com a chave do carro hoje de manhã era você.
− Nossa única testemunha ainda é o Poncho.
− Inofensivo agora que toda a família sabe que a Tereza está enterrada no jardim.
− Será que papai já tem alguma ideia de como vai despachar o corpo?
− Se não teve ainda, é melhor que tenha de uma vez por todas. Daqui a pouco a Tereza vai virar adubo no jardim da mamãe.

*

A decisão foi comunicada à noite durante o jantar com toda a família reunida novamente. Tomando um cálice de vinho, Carlos declarou:

− Pensei bastante sobre o caso da Tereza. O melhor que temos a fazer é jogá-la dentro de um rio. De preferência bem distante daqui.
− Rá! – exclamou Cris se sentindo o tal. – Esta ideia é minha.
− Certamente se vocês fossem jogar o corpo da infeliz no rio no dia do ocorrido, seriam descobertos. A pressa é inimiga da perfeição.
− Humm, que legal – Marília debochou. – Você irá executar este servicinho na maior perfeição. Que bonito.

Carlos ignorou a ironia da esposa e continuou:

− Amanhã eu vou forrar o porta-malas com lençóis e toalhas velhos. Desenterraremos o corpo depois que tivermos certeza que os vizinhos estão recolhidos. Vamos ensacá-la e a colocar dentro do carro. Vou comprar luvas descartáveis e máscaras porque o cheiro vai estar insuportável. Depois vamos até o local a uns 50 quilômetros daqui e jogamos o corpo no rio. Tenho alguns tijolos que sobraram da última reforma. Ela vai afundar que é uma beleza.
− Não vejo a hora de ver tudo isto. Já tenho uma história para contar aos meus netos! Uhu! – Amanda esfregou as mãos muito empolgada. – Quanta emoção!
− E quem disse que você vai ir junto conosco? – indagou Carlos irritado. – Quanto menos gente, menos atenção iremos chamar.
− O quê? Você acha que eu vou perder esta? Nunca! Nunquinha mesmo!
− Bem, se toda a família vai – declarou Marília tomando chá, – por óbvio que eu também irei para dar uma força.

Poncho latiu lá fora. Cris comentou:

− O cachorro quer ir junto também!

Gargalhada geral. Naquele momento Poncho entrou na sala sem ninguém perceber e largou algo atrás da cadeira de Marília. Amanda fungou o ar e perguntou:

− Alguém peidou?
− Olha os modos, Amanda – ralhou Marília. – Onde está sua sofisticação?

A garota farejou a direção do fedor que já empestava a sala. E então disse:


− Minha sofisticação está no lugar de sempre. Mas o braço de Tereza está bem atrás de você.

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