sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

UM CADÁVER NO MEU JARDIM (Cap. 13)

Marília deu um pulo da cadeira aos gritos e correu para o outro lado da sala. Enquanto Amanda, André e Cris praticamente rolavam de tanto rir, Carlos se levantou furioso, enxotou Poncho aos berros e tapando o nariz, levou o braço para fora com a ajuda de uma toalha que Marília jogou para ele.

Os filhos seguiram Carlos até a sepultura de Tereza onde sem muito cuidado, ele enterrou o braço de novo. O cheiro estava terrível.

− Não passa de amanhã, sem dúvida nenhuma – esbravejou Carlos esquecendo que os vizinhos podiam escutar alguma coisa. – E se tivéssemos uma visita? Como eu iria explicar a origem do braço?
− Pai, é melhor mantermos o Poncho preso – avisou André. – Ele adora fuçar onde a Terê está enter…
− Ei, não fale demais! – disse Cris pegando o cachorro e o levando para sua casinha.

Poncho foi devidamente preso, ainda que sob protesto. André se aproximou e colocou o prato de ração perto dele.

− Misturei o restante dos comprimidos da mamãe. Isto vai mantê-lo quieto até nos livrarmos da Tereza.

Lá de dentro veio a voz de Marília:

− Já enterraram o braço da mulher?

Cris olhou para o irmão sem acreditar no que estava ouvindo.

− Será que vocês querem que a vizinhança saiba que tem um corpo enterrado no nosso jardim? – perguntou ele tenso.
− Por culpa de vocês dois – acusou Carlos lavando com esmero as mãos no tanque. – Se ambos tivessem tido a decência de ter chamado a polícia, tudo isto já teria sido resolvido.
− Quer saber? – Amanda perguntou enquanto entrava com o pai e os irmãos para dentro da casa. – Estou achando tudo isto sen-sa-cio-nal.

*

Naquela noite ninguém dormiu direito (com exceção de Amanda) e durante todo o dia nenhum deles conseguiu se concentrar direito nas suas atividades. Poncho havia sido solto pela manhã, mas, sonolento, se contentou em ficar quieto descansando no gramado.

Era próximo das dez horas da noite quando a família inteira rumou para o jardim. Carlos forrou com toalhas e cobertores velhos o porta-malas do carro. Ninguém havia jantado e nenhum deles estava com fome. Luvas cirúrgicas e máscaras estavam ao alcance de todos. André e Cris aguardavam nervosamente o momento em que teriam que cavar a cova e desenterrar Tereza. Um saco preto de bom tamanho estava ao lado da sepultura. Marília observava a tudo de longe com uma toalha no nariz.

− O que é aquilo ali?

A voz de Amanda interrompeu o silêncio da noite. Carlos que segurava a pá olhou para onde a filha apontava.

− Ora, Amanda! – Carlos se sentia completamente sem paciência. – É somente o Poncho dormindo.

André olhou com mais atenção. Havia algo estranho ali.

− Espere um pouco – disse ele.
− Esperar o quê? – Carlos não esperou e deu duas escavadas seguidas. Queria se livrar daquele fardo de uma vez por todas.
− Pai, para tudo – pediu Cris apressando seus passos em direção ao seu animal de estimação.

A família observou quando o gêmeo tocou no bicho, puxando a mão em seguida.

− Gente, ele está morto.

Um “oh” generalizado ecoou por todo o jardim. Cris se levantou furioso e encarou o irmão.

− Foi você!
− Eu? Eu o quê?
− Você matou Poncho!
− Eu? Antes eu havia matado o Rodolfo! Agora você vai me acusar de ter matado o cachorro também? E Tereza? Sou culpado também pela morte dela?
− Ei, falem baixo! – pediu Marília correndo na direção dos dois brigões, implorando para que baixassem o tom de voz. – Deixem para discutir depois.
− Você exagerou na dose dos comprimidos da mamãe. Ele não suportou!

Amanda, que até então tinha achado tudo muito divertido, naquele momento estava à beira das lágrimas.

− Vocês dois… são uns assassinos! Assassinos!
− Calem a boca todo mundo! – ordenou Carlos. – Temos algo mais importante para fazer do que discutir a morte dele!
− Eu não matei ninguém! – defendeu-se André. – E você apoiou quando dei a ideia de roubar os comprimidos da mamãe para dopá-lo.
− Eu não acredito que vocês fizeram uma coisa destas – murmurou Amanda.
− Carlos, nós precisamos dar um jeito neste corpo também – exigiu Marília evitando olhar para onde estava Poncho. – E breve! Estou de saco cheio desta história!
− Sabe qual é a minha vontade? De atirar vocês todos no rio! – Carlos parecia um louco, com os olhos vidrados e descabelado.


Silêncio total.

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