sábado, 11 de junho de 2016

CURTINDO A VIDA SEM NOÇÃO (parte 1 de 2)



Carol caminhava calmamente pela rua. Era noite, quase 22h30min, de uma sexta-feira. A garota de 20 anos voltava a pé do trabalho. Morava em uma cidade pequena onde nada acontecia. Nada mesmo. Era possível caminhar pelas ruas a qualquer hora sem que corresse o risco de ser assaltada, estuprada ou coisa pior. Os amigos se concentravam na praça da cidade para bater papo e ouvir música no som alto dos carros. Talvez alguns fumassem maconha, mas nada de grave decorria disto. Tudo o que acontecia nas grandes cidades passava longe de Santa Palma. A calmaria era entediante para ela.

A turma de amigos de Carol era de gente boa. Gostavam de beber, mas moderadamente. Quando não estavam na praça, se reuniam na casa de um ou de outro para fazer um jantar ou churrascada. Alguém pegava o violão ou rolava um som eletrônico. Era legal. Mas Carol queria mais.

Era muito marasmo para uma pessoa só, pensava ela naquela noite estrelada. Seu sonho era passar no vestibular, formar-se em jornalismo, trabalhar na TV e sumir de Santa Palma. Victor, seu namorado há três anos, era nerd. Entendia tudo de computador e se satisfazia com aquela vida simples. Isto enfurecia Carol. Se Victor usasse todo seu conhecimento em informática, poderia viver longe de Santa Palma, em algum lugar animado, dinâmico, com gente que poderia levá-lo para frente. Mas não. Victor não queria sair da sua zona de conforto. Naquele momento ele deveria estar chegando à praça com sua moto velha para se encontrar com os amigos e esperar por ela. Todas as sextas-feiras era esta a programação. Carol deixava a farmácia em que trabalhava, voltava para casa, tomava um banho e tomava o rumo da praça. 

Era bom ficar com os amigos.

Mas não o bastante para ela.

Não faltava muito para Carol chegar em casa quando escutou o barulho do motor de um carro atrás de si. Curiosa, ela olhou para ver quem era. O cara mais gato da cidade ─ e também o mais rico ─ diminuiu a marcha para acompanhar os passos de Carol. A garota ficou excitada. Sempre achara Tiago o mais top de todos. Naquele lugar enfadonho, ele agitava horrores. Sem se preocupar com o amanhã, Tiago e seus amigos bebiam, fumavam e cheiravam. Era um escândalo. Como não havia o que fazer em Santa Palma, a turma de loucos se bandeava para outras cidades maiores nos seus carros possantes. Victor torcia a cara para aqueles drogados, como se referia. Mas para Carol eles eram o máximo. Uma pena que era invisível aos olhos daqueles loucos.

— Oi, Carol.

Ela parou no meio da calçada, ligeiramente estonteada. Como assim? Tiago sabia o seu nome? Meu Deus, aquilo era bom demais.

— Oi... Oi, tudo bem?

Tiago sorriu de dentro da sua possante caminhonete prata. Aliás, dias antes Carol sonhara que estava dentro daquele carro. Será que… será que seu sonho seria realizado?

— O que uma garota bonita como você está fazendo sozinha numa noite gostosa como esta?

Carol piscou. Sério mesmo? Ele a achava “bonita”?

— Eu estou indo para casa.
— Para casa? ─ Tiago olhou para o relógio caro que trazia no pulso. — Tão cedo? Quer dar uma volta?

Ela disse para si mesma: resista.

— Volta?

Uma brisa balançou os cabelos loiros do rapaz.

— Você tem algum compromisso?

Carol se lembrou dos amigos que a esperavam na praça e de Victor com sua moto velha.

— Tudo bem se você não quiser.

Tiago fez menção de que iria arrancar com o carro.

— Não. Não vá ─ se não fosse ela, seria outra garota. — Quero dar uma volta. Com você.

Com um sorriso gostoso, ele abriu a porta da caminhonete. — Entra aí.

Dois segundos depois Carol estava comodamente instalada ao lado dele, feliz e extasiada. Jogou a bolsa para o banco de trás e se viu obrigada a confessar:

— Nunca andei em um carrão destes.
— Deu pra ver. Prepare-se ─ Tiago acelerou — para a aventura da sua vida.
*
Nos primeiros cinco minutos eles ficaram em silêncio. Volta e meia Tiago a olhava e sorria. Carol mal podia se conter. Como queria pegar o celular e fazer uma selfie. Seria o assunto da cidade por muito tempo. De repente Tiago perguntou:

— Quer uma carreira?
— O quê?
— Quer cheirar?

Carol engoliu em seco quando viu Tiago aproximando o nariz de um pó parecido com talco e cheirando uma carreira de cocaína. Quer dizer, ela achava que fosse. Tiago fechou os olhos e os abriu novamente para encarar Carol.

— Tenho mais um pouco. Quer?

Carol nunca tivera vontade de cheirar droga nenhuma. Nem nunca pensou nisto.

— Nunca cheirei nada na vida. Só meus perfumes ─ disse ela, tentando fazer graça.

Ele riu também.

— Mude sua vida. Você tem esta chance aqui comigo.

Ao lado de Tiago a vida de Carol não parecia nem um pouco sem graça. Muito pelo contrário. Parados naquela rua deserta, ela não recuou quando Tiago lhe estendeu uma agenda com uma carreira de cocaína em cima.

— Vai. É só cheirar.

Carol fechou os olhos. Era só negar.

— Ok. Quero ver como é ─ arrematou ela, nervosa e curiosa ao mesmo tempo.

A garota cheirou rápido, com medo de desistir e parecer uma idiota. Uma sensação estranha tomou conta dela. Prazer, um prazer diferente.

— Nossa ─ murmurou ela.

— Vamos aloprar ─ Tiago arrancou com o carro. — A noite ainda não começou.

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